RELATO DE UM PROFISSIONAL DA SAÚDE QUE JÁ PERDEU AMIGOS E FAMILIARES PARA A COVID-19, SOBRE O 18TÃO DE JULHO EM ARARENDÁ-CE:

O 18tão não é importante: Texto do Dr. Thiago Nathercyo – Coordenador da Vigilância a Saúde Epidemiológica de Ararendá-CE.

A pandemia me ensinou muitas coisas, neste um ano e meio, vi de tudo e mais um pouco. E quando você pensa que já viu tudo, a pandemia te dá uma rasteira. Mas, eu aprendi:

CONHECIMENTO; É preciso está com a mente e o coração aberto todos os dias. Ter coragem de errar e buscar entendimento nas situações. Respeitando todos, pois cada um tem conhecimentos diferentes e fazem parte de um grande quebra-cabeça irônico da vida.

INSEGURANÇA; Por mais que você estude, se aperfeiçoe, desenvolva habilidades , conheça infinidades de avaliações e protocolos, tudo pode sair do controle, quando o quesito é saúde.

DESGASTE; Conscientizar pessoas vai te tirar a paciencia, a sanidade, o sono, a paz. Porque no meio do processo de reconstrução sempre terá culturas diferentes, os que são do contra, as pessoas sem conhecimento em cargos de decisão, aproveitadores e mercenários.

O MEDO; Medo de morrer quando peguei a covid, medo de perder as pessoas idosas da minha familia por lentidão na vacina, medo de perder meu pai quando trasferi ele dentro do SAMU e vi ele entrar na UTI como se o amor se esvaisse pelos meus braços. Medo de olhar para 8 leitos lotados em estado grave de pessoas conhecidas, medo quando acabou todas as vagas, medo quando tive que feixar o primeiro saco preto no município. Medo de ter que desistir, Medo da opinião das pessoas a minhas atitudes. Medo de tanta coisa nova sem nada para se guiar, medo do escuro da ciência.

VITÓRIA; Quando consegui recuperar meu pai pelas minhas proprias mãos. Quando consegui recuperar um a um dos pacientes no hospital, vitoria de ter uma boa equipe para gerenciar, vitoria de ter ajudado a muitos mesmo sem o reconhecimento em troca, vitoria de ter provado para os mais rebeldes que a doença existe, vitoria de ter devolvido pedradas e chingamentos com o auxilio no leito. Vitoria de ver a vacina, de ser vacinado e aconpanhar os leitos se esvaziarem.

O LUTO; De perder amigos, de perder conhecidos, de perder meu tio para covid. Ter que seguir as leis e não poder dar um enterro digno ao meu tio.

A FRUSTRAÇÃO; Tive a frustração de não conseguir proteger toda a familia, de não conseguir manter todos de baixo das minhas asas. Assistir as pessoas sofrerem, saber o desfecho do caso e aguentar calado, dando força aos familiares para não perder as esperanças. Ver as pessoas morrerem aos pouquinhos minuto a minuto. Ter que adimitir que a melhor solução para aquela pessoa era que morresse rapido para não sofrer muito. Frustração de segurar na mão do paciente e assistir sua partida sem poder fazer mais nada e ainda dizer para ele que tudo vai dar certo. Frustração em ter que provar que o sistema não funciona porque tem pessoas privilegiadas que não fazem seu trabalho da forma correta e deixa a operação falha a beira do fracaço, simplismente pela preguiça alheia. Frustração em ver pessoas que levou os créditos pelo meu trabalho ou roubou o merito de outros e só teve que fazer elogios falsos. Frustração de saber que algum inocente vão adoecer pela displicencia de pessoas sem a menor responsabilidade em todos os aspectos.

A INDIFERENÇA; Saber que as pessoas esqueceram tudo que passou. Que as pessoas estão brincando com a capacidade do virus. Saber que não adianta mais pedir, orientar, explicar ou suplicar. Pois nem a polícia da mais jeito. Saber que vai ter gente atrapanhando com descupa de “charminho político”. Que as pessoas vão te criticar porque você está pedindo o certo, e para o momento elas estão opitando pelo errado. Que as pesssoas estão cansadas de seguir as regras, pois por livre espontânea vontade, decidiram que a pandemia acabou e querem beber. Que sua vida pessoal vai ser julgada, pois eles querem te escarnecer com o adjetivo de hipócrita. Que as pessoas procuram as justificativas mais futeis e vil para justificar seus delitos.

RESILIÊNCIA; Mas é isso: fiz e faço o que posso. Acho que é isso que Deus deve dizer. Afinal aqui é o Brasil. O faroeste do mundo. É preciso saber que não podemos convencer todos, que não poderemos salvar todos. As vezes é preciso aceitar o bordão “quem for de isopor que se esfarele”.

PACIÊNCIA; 18tão não é tudo. Ainda vai vir muitas coisas. E é normal ter pessoas que não valorize a vida. A final, morrer, tambem é uma escolha. Chegamos no automático da pandemia: pega quem quer, e salva-se quem puder. Vai com tudo 18tão!

Texto reflexivo e enfático de Dr. Thiago Nathercyo.

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