27 agrotóxicos são encontrados na água de 4 cidades do Ceará; Entre as quais, Ararendá
Testes realizados em 2022 detectaram a presença de 27 tipos de agrotóxicos na água fornecida em Fortaleza e mais três cidades do Ceará, conforme dados públicos disponibilizados pelo Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Vigiagua), do Ministério da Saúde. Embora em concentração dentro do limite considerado seguro pela Pasta, há risco de interação química entre as substâncias. Além da Capital Fortaleza, foram afetadas Caucaia, na Região Metropolitana; Russas, no Vale do Jaguaribe, e Ararendá, no Sertão de Crateús.
Na lista, estão herbicidas, fungicidas e inseticidas com potencial cancerígeno ou de distúrbios no sistemas hormonal, imunológico e reprodutivo:
1) 2,4 D + 2,4,5 T
2) Alaclor
3) Aldicarbe + Aldicarbesulfona+ Aldicarbesulfóxido
4) Aldrin + Dieldrin
5) Atrazina
6) Carbendazim + benomil
7) Carbofurano
8) Clordano
9) Clorpirifós + clorpirifós-oxon
10) DDT + DDD + DDE
11) Diuron
12) Endossulfan
13) Endrin
14) Glifosato + AMPA
15) Lindano
16) Mancozebe
17) Metamidofós
18) Metolacloro
19) Molinato
20) Parationa Metílica
21) Pendimentalina
22) Permetrina
23) Profenofós
24) Simazina
25) Tebuconazol
26) Terbufós
27) Trifluralina.
Os herbicidas 2,4 D e glifosato, inclusive, foram os dois agrotóxicos mais comercializados no Ceará em 2022, de acordo com o Sistema Eletrônico de Relatórios Semestrais de Agrotóxicos, do Ibama. Ambos totalizaram 562 toneladas vendidas.
A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), que abastece as quatro cidades, informou ao Diário do Nordeste que o abastecimento de água nos municípios de Fortaleza, Caucaia, Russas e Ararendá “não oferece nenhum risco para a população, visto que os parâmetros estão dentro dos padrões de potabilidade de água estabelecidas na Portaria de Consolidação nº5 do Ministério da Saúde”.
A empresa garantiu ainda que o monitoramento “obedece rigorosamente” às exigências do Ministério da Saúde.
EFEITOS COMPLEXOS
Ronaldo Ferreira do Nascimento, professor do Departamento de Química Analítica e Físico-Química da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que a estimativa dos efeitos dessas substâncias na saúde humana depende da frequência e da quantidade aplicada. Porém, sobretudo os pesticidas são potencialmente tóxicos aos seres vivos. “Quando aplicados de maneira inadequada nas culturas, sem a condução das Boas Práticas Agrícolas, resíduos destes compostos tóxicos podem persistir no meio ambiente (água e solo), como também nos frutos e hortaliças, gerando uma rota de exposição humana via alimentação”, avalia.
Segundo o especialista, geralmente, a poluição de águas subterrâneas e superficiais por agrotóxicos ocorre pelo descarte inadequado, sendo mais provável “devido à atividade agrícola”. No entanto, é difícil cravar o motivo por causa da natureza química e do comportamento de algumas substâncias, ainda pouco conhecidas. Por esse motivo, Ronaldo considera mais prudente considerar cada caso particularmente por não ser possível determinar a generalização dos efeitos. O que se sabe é que alguns tipos de agrotóxicos, “ao permanecerem no ambiente ou atingirem o meio aquático, oferecem riscos para espécies animais por sua toxicidade e possibilidade de bioacumulação ao longo da cadeia alimentar”.
No ano passado, o Diário do Nordeste mostrou que a água de pelo menos 86 cidades cearenses teve registros de substâncias nocivas ao organismo em concentrações acima das máximas permitidas pela legislação brasileira. Foram acusados valores altos para nitratos e trihalometanos, oriundos de fertilizantes ou de esgotos, que são potencialmente cancerígenos. No Ceará, o Vigiagua é coordenado e acompanhado pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). Ela atua em caráter preventivo e rotineiro, avaliando permanentemente os riscos à saúde humana de cada sistema, e em caráter investigativo, em situações de emergências e surtos relacionados a doenças de transmissão hídrica.
O último boletim epidemiológico do Programa, divulgado em maio de 2023, mostra que: 87,08% da população cearense é abastecida por sistemas de abastecimento (SAA, que é a rede encanada);
5,49% é abastecida por soluções alternativas coletivas (SAC, como chafarizes, dessalinizadores, carros-pipas e caixas públicas);
3,91% utiliza soluções alternativas individuais (SAI, como poços e cisternas);
Não há informações sobre os demais 3,52%.
Conforme o relatório, 99,7% da população atendida por SAA recebe água com tratamento de desinfecção com cloro; das atendidas por SAC, o percentual cai para 18,7%. “Faz-se necessário demonstrar aos gestores a necessidade de investimentos para que toda população cadastrada em SAA e SAC receba água com desinfecção”, recomenda a Sesa.
No último documento, a Pasta também encontrou coliformes totais em 34% das amostras (principalmente nas soluções individuais), atestando alguns fatores na precariedade das formas de abastecimento, como: armazenamento inadequado da água nas diversas formas de abastecimento, intermitência no abastecimento, fontes de água sem nenhuma proteção, preservação inadequada ou sem manutenção, falta de desinfecção periódica de cisternas, caixas d’águas, chafarizes e outros reservatórios utilizados nos domicílios.
Segundo a Sesa, é preciso continuar auxiliando os municípios nas ações do programa e avaliando a qualidade das informações fornecidas ao sistema.
Conforme o professor Ronaldo Ferreira, como os agrotóxicos possuem propriedades físico-químicas bem diferentes, sua remoção pelo tratamento convencional de água é dificultada. Isso leva “à necessidade de considerar a aplicação de processos avançados (por exemplo, eletrocoagulação-flotação) para cada caso particularmente”, argumenta.
Por: Diário do Nordeste.